Finalizei há pouco a “Revolução dos Bichos” de George Orwell, onde ele conta uma fábula fazendo alusão aos regimes totalitários da época e sobretudo ao Soviético.
A ideia central do livro é a busca pela liberdade da sociedade e, principalmente do indivíduo, já que a primeira depende da segunda. No entanto, o conceito de liberdade; no qual todos entendem, mas ninguém explica; é frágil e complicado em termos teóricos e quem dirá na prática. Em outras palavras: se libertar de quem “cuida” de nós, nos trará uma responsabilidade que aparentemente não tínhamos e, isso trará como consequência uma demanda distinta do qual éramos submetidos.
A palavra “cuidar” que usei pode ser entendida como “explorar”; o que dependerá do ponto de vista de cada um de acordo ás experiências vividas ou submetidas.
Quando somos “cuidados” por outros, isso já nos traz, em certa medida, uma impossibilidade de que esse cuidado seja feito por nós mesmos, isto é, se alguém cuida de nós e se isso é bom ou ruim, por que não faço eu mesmo este cuidado e, assim não tenho de me submeter tanto quanto gostaria. Porém, exercer esse nível de liberdade, presumo que seja uma prática extremamente difícil e, talvez impossível. Somos seres sociáveis e, imaginar cada indivíduo vivendo como um eremita nos topos das montanhas, me perece uma ideia absurda além de impraticável; mesmo se pensarmos indivíduos como famílias. Nem mesmo os alpinistas vivem no topo da montanha. Mas isso é outro assunto.
O fato é que precisamos viver em sociedade e, com isso ainda, buscar a tal liberdade (tanto desejada como mal compreendida) e, assim viabilizar a melhor maneira de realizar esse desejo, sem com isso submeter o outro às nossas vontades, principalmente quando o outro não as deseja, mesmo que nem mesmo ele saiba disso.
Outra questão é que não é possível numa sociedade, por mais equalizada que possa ser, não haver um que a lidera; seja por capacidade, por força, por persuasão, etc. Os mais preparados (seja lá o que isso signifique para você) sempre irão liderar. E, quanto aos liderados, muitos assim preferirão. O que pode parecer contraditório quanto ao conceito mínimo de liberdade, isto é, exercer o livre-arbítrio, se é que isso existe. Mas isso também é outro assunto.
Entendo também que o exercício de uma liberdade pode ser, inclusive escolher um líder para seguir e até idolatrar. Afinal, é liberdade! Ou não?
O livro explora bem toda esta minha visão sobre as palavras de Orwell e, me pego a pensar sobre qual seria a maneira ideal de liberdade; uma definição e não um mero conceito particular, tanto no aspecto teórico como pragmático.
Lembrando que nossas decisões são muito mais emocionais do que racionais, ampliando nossas vulnerabilidades diante dos mais “preparados”. Emoções estas que são involuntárias e predominantemente inconscientes, ou seja, basta coordenar os estímulos ao povo, que sua percepção será alterada.
Para resumir o livro: aqueles que renunciam à liberdade em troca de promessas de segurança acabarão sem uma nem outra. Esta é uma lição que transcende qualquer momento da história.
Como solucionar isso ou ao menos amenizar?
Educação. Mas não somente a educação como instrução ou alicerce moral e ético, mas uma educação como autonomia para pensar. Não entendo liberdade, por mais frágil que possa ser, sem essa autonomia. E sobretudo, educação não como um direito do cidadão, pois, se é um direito, logo é dever do outro; mas como um dever de cada cidadão. Noutras palavras: você é responsável por essa autonomia. Isso não dá para terceirizar.
João Marcos Vieira